Pelo fato talvez de Lavras da Mangabeira ser um município de tradições
históricas – o décimo sexto município a ser criado no Ceará, ainda no período colonial – é que não
aceito (e por certo não se justifica) o equívoco de comemorar-se em 20 de
agosto o seu aniversário natalício.
Esta data, com acerto, está ligada a uma particularidade da
história de Lavras, tão-somente: foi nesse memorável vinte de agosto, mais
precisamente em 1884, que a Vila de São Vicente das Lavras, distrito-sede do
município do mesmo nome, foi elevada à categoria de cidade, pela lei estadual
nº 2075, votada pela Assembleia Legislativa cearense, ao tempo em que era
Presidente da Província Carlos Honório Benedito Otoni.
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DIMAS MACEDO Poeta - Escritor e Historiador |
A povoação de São Vicente Ferrer das Lavras, uma das mais antigas do
Ceará, cresceu em torno da atividade da mineração, que se desenvolveu em suas
cercanias, ainda em fins do Século XVII e inícios do século XVIII, a qual teve
determinada a sua suspensão por Carta Régia de 12 de setembro de 1758, por
serem consideradas onerosas às Cortes de Lisboa.
Antes da emancipação política da comunidade de Lavras, foi criada a sua
freguesia, sob a invocação de São Vicente Ferrer, por provisão de 30 de agosto
de 1813, vinculada referida freguesia ao Bispado de Crato, sendo seu primeiro
vigário (colado) o padre José Joaquim Xavier Sobreira, nascido no sítio
Logradouro, em 1777, e falecido em sua terra de berço, aos 17 de maio de 1827,
depois de integrar o primeiro governo provisório da Província do Ceará e de se
destacar como o lavrense de maior projeção do seu tempo.
O município de Lavras da Mangabeira foi criado por Carta Régia de 20 de
maio de 1816, confirmando igualmente a criação o Alvará de 27 de junho do mesmo
ano, sendo oficialmente instalado aos 08 de janeiro de 1818, ocasião em que foi
levantado o Pelourinho (símbolo da autonomia política municipal) e a antiga
Povoação de São Vicente Ferrer das Lavras elevada à categoria de Vila, ficando
a pertencer à comunidade lavrense uma vasta região do Sul do Ceará, onde se
encontram hoje encravados os municípios de Aurora, Várzea Alegre, Baixio,
Cedro, Umari e Ipaumirim.
Assinada pelo Príncipe Regente Dom João VI, citada Resolução Régia de 20
de maio de 1816, possuía a seguinte redação: “Sou servido a levantar em vila a
povoação de S. Vicente Ferrer das Lavras da Mangabeira com a denominação de –
Vila de S. Vicente das Lavras. Terá por termo todo o território da sua
freguesia, ficando desde logo desmembrada do termo da Vila de Icó com todos os
rendimentos que lhe forem respectivos. Querendo beneficiar a Câmara da dita
vila de S. Vicente das Lavras, e aliviar quanto for possível os moradores do
seu termo, hei por bem conceder-lhe para patrimônio uma sesmaria de uma légua
de terra em quadra, conjunta ou separadamente, onde a houver desembaraçada”.
Eis aqui, portanto, um fato de constatação muito fácil, na memória do
qual devemos nos louvar: 20 de maio de 1816. Foi nesta data que o município de
Lavras da Mangabeira adquiriu a sua emancipação, isto é, foi nesta data em que
o município de Lavras da Mangabeira nasceu e é em 20 de maio que devemos render
incensos à sua tradição, comemorando o seu aniversario natalício, como fazem,
aliás, todos os demais municípios do Brasil.
Em 20 de maio de 2016, Lavras da Mangabeira vai comemorar 200 anos de
emancipação; e, por conseguinte, em 20 de agosto desse mesmo ano, vão-se tecer
os 132 anos da elevação da antiga Vila de São Vicente das Lavras à categoria de
cidade. E este ultimo fato não se pode tomar qual se fosse uma data alusiva à
autonomia política da comuna, como se vive a propalar há bastante tempo.
Talvez pelo fato de se ter comemorado, em 20 de agosto de 1984, o
centenário da cidade de Lavras, é que esse equívoco se perpetuou, encobrindo a
autenticidade de um fato histórico relevante.
Bom seria que a data de 20 de maio pudesse ser revitalizada e
restabelecida ou que, pelo menos, a edilidade lavrense pudesse esclarecer à
população e à imprensa o que está efetivamente louvando em 20 de agosto, quando
se fala em Semana do Município de Lavras, numa alusão à data máxima da história
daquela importante comuna cearense.
O que não podemos admitir é perpetuação de um equívoco, que há muito já
devia ter sido corrigido, um equívoco certamente imperdoável para um município
de tantas tradições, que excele na história política do Estado, face à
magnitude e à potência das suas peculiaridades culturais e humanas.
Esclareço, de último, que aquilo que expus, acima, de forma veemente,
anteriormente eu o fiz em Ceará Administrativo(nº 43, ano VII,
outubro/1994), e que o texto a que faço remissão figurou no meu livro Ensaios
e Perfis (Fortaleza, Editora Prêmius, 2004).
Posteriormente, em tabloide que se fez editado na cidade de Lavras, em
agosto de 2007, vê-se que a prefeitura da edilidade entende, claramente, que “O
município de Lavras foi criado pela Resolução Régia de 20 de maio de 1816”. Mas
pasmem os leitores que ao lado da matéria em foco – Lavras da
Mangabeira: Sua Origem, Sua História – encontra-se uma mensagem da
prefeita aludindo aos 123 anos do nosso município.
Fico por aqui a matutar a falta de respeito, a
irresponsabilidade política e o absurdo total a que chegamos nesta fase
indiscutivelmente dolorosa da história de Lavras.
E se mais não digo sobre a importância da nossa edilidade, e sobre a
evidência do seu importante natalício, é porque acredito que as coisas um dia
se vão esclarecer.
Mas com relação à minha terra, de último, acredito mais no seu
passado do que no seu presente que teima em não acontecer.
Eis aqui, portanto, um fato de constatação muito
fácil, na memória do qual devemos nos louvar: 20 de maio de 1816. Foi nesta
data que o município de Lavras da Mangabeira adquiriu a sua emancipação, isto
é, foi nesta data em que o município de Lavras da Mangabeira nasceu e é em 20
de maio que devemos render incensos à sua tradição, comemorando o seu
aniversario natalício, como fazem, aliás, todos os demais municípios do Brasil.
Em 20 de maio de 2016, Lavras da Mangabeira vai
comemorar 200 anos de emancipação; data que devemos comemorar em grande estilo
e com muito Glamour já que nossa terra teve um passado de muita luta e muitas
glórias com participação ativa na história política, social e econômica do
Estado do Ceará.
Por: Dimas Macêdo