A ingratidão tem sido um comportamento imperdoável do ser
humano, porque o ingrato é um traidor em potencial. Não existe ingratidão sem
traição. O ingrato sempre trai por ação ou omissão, porque é da sua essência a
mediocridade. O homem medíocre jamais perdoa o sucesso de seus semelhantes,
nunca retribui favores recebidos de alguém que ama e tem como norma de conduta,
não reconhecer o mérito dos que triunfam pelo esforço e pela dedicação. Sente inveja expressa no olhar, nas palavras
e gestos, de todos os que alcançam o sucesso e a felicidade. Nunca luta para
vencer pelas suas qualidades, mas embaçando ou empanando o brilho das vitórias
dos outros. O escritor e político
brasileiro, Plínio Salgado, teve o mérito de definir com precisão a figura do
traidor, quando escreveu:
O traidor manifesta-se no olhar que não tem luz; na
palavra, que é escorregadia e cheia de subentendidos; no gesto, que é
equivocado; no sorriso, que é permanente, pois precisa esconder as emoções
inconfessáveis.
E assim tem sido predestinada a vida política de alguns
homens, vítimas de ódio, traição e vingança, na trajetória de suas imagens
públicas. Alguns, traídos pelos próprios companheiros, como o alferes
Tiradentes. Outros, assassinados de forma estúpida e incompreensível como os
presidentes Abraham Lincoln e John Fritzgerald Kennedy nos Estados Unidos, Mahatma
Ghandi, na Índia; muitos, levados ao suicídio como ocorreu com Getúlio
Dornelles Vargas, no Brasil; Salvador Alende, no Chile e vários estadistas.
O poder tem sido uma força que atrai e corrompe, seduz e
embriaga, avilta e destrói o caráter, aniquila a personalidade, escraviza a
vontade, tortura a consciência, maltrata o raciocínio, ignora o bem, despreza a
solidariedade e faz da soberba o seu agasalho.
É, portanto, na arte da política que o homem deve
aprender a conviver com as adversidades impostas pelos próprios homens. Deve
ter o cuidado de confiar apenas no seu talento, capaz de minar as intrigas dos
mais astutos opositores, porque é na forma sincera de agir que o homem permite
vislumbrar toda a fortaleza do seu caráter.
Ser político, no sentido virtuoso do termo, é construir o
bem sem receber as honrarias do benfeitor; é aceitar todas as adversidades como
o resultado da soberania popular; é ter as melhores idéias e não vê-las
triunfar; assistir às injustiças contra o povo e ter forças para combatê-las, é
renunciar ao próprio interesse, para ver consagrados os interesses de todos; é
ter espírito público capaz de não negociar os direitos do povo e coragem para
denunciar as medidas injustas, que o poder arbitrário arma contra a sociedade,
nem sempre cuidadosa para com os seus direitos de cidadania.
Nenhum comentário:
Postar um comentário