sábado, 14 de julho de 2012

A Ingratidão na Política



           A ingratidão tem sido um comportamento imperdoável do ser humano, porque o ingrato é um traidor em potencial. Não existe ingratidão sem traição. O ingrato sempre trai por ação ou omissão, porque é da sua essência a mediocridade. O homem medíocre jamais perdoa o sucesso de seus semelhantes, nunca retribui favores recebidos de alguém que ama e tem como norma de conduta, não reconhecer o mérito dos que triunfam pelo esforço e pela dedicação.  Sente inveja expressa no olhar, nas palavras e gestos, de todos os que alcançam o sucesso e a felicidade. Nunca luta para vencer pelas suas qualidades, mas embaçando ou empanando o brilho das vitórias dos outros.  O escritor e político brasileiro, Plínio Salgado, teve o mérito de definir com precisão a figura do traidor, quando escreveu:

          O traidor manifesta-se no olhar que não tem luz; na palavra, que é escorregadia e cheia de subentendidos; no gesto, que é equivocado; no sorriso, que é permanente, pois precisa esconder as emoções inconfessáveis.
  
          E assim tem sido predestinada a vida política de alguns homens, vítimas de ódio, traição e vingança, na trajetória de suas imagens públicas. Alguns, traídos pelos próprios companheiros, como o alferes Tiradentes. Outros, assassinados de forma estúpida e incompreensível como os presidentes Abraham Lincoln e John Fritzgerald Kennedy nos Estados Unidos, Mahatma Ghandi, na Índia; muitos, levados ao suicídio como ocorreu com Getúlio Dornelles Vargas, no Brasil; Salvador Alende, no Chile e vários estadistas.

O poder tem sido uma força que atrai e corrompe, seduz e embriaga, avilta e destrói o caráter, aniquila a personalidade, escraviza a vontade, tortura a consciência, maltrata o raciocínio, ignora o bem, despreza a solidariedade e faz da soberba o seu agasalho. 

          É, portanto, na arte da política que o homem deve aprender a conviver com as adversidades impostas pelos próprios homens. Deve ter o cuidado de confiar apenas no seu talento, capaz de minar as intrigas dos mais astutos opositores, porque é na forma sincera de agir que o homem permite vislumbrar toda a fortaleza do seu caráter.

          Ser político, no sentido virtuoso do termo, é construir o bem sem receber as honrarias do benfeitor; é aceitar todas as adversidades como o resultado da soberania popular; é ter as melhores idéias e não vê-las triunfar; assistir às injustiças contra o povo e ter forças para combatê-las, é renunciar ao próprio interesse, para ver consagrados os interesses de todos; é ter espírito público capaz de não negociar os direitos do povo e coragem para denunciar as medidas injustas, que o poder arbitrário arma contra a sociedade, nem sempre cuidadosa para com os seus direitos de cidadania.



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