Cientistas anunciaram nesta quarta-feira (3) ter encontrado pistas promissoras na incomumente "robusta" resposta natural do sistema imunológico de um paciente na África na busca de uma vacina para a Aids a partir de anticorpos.
Ao estudar amostras de sangue no período três anos posterior à infecção do indivíduo, os cientistas testemunharam uma batalha em escala microscópica entre o vírus e os anticorpos, ambos evoluindo à medida em que tentavam ganhar o controle sobre o outro.
Pela primeira vez, os estudiosos conseguiram acompanhar a cadeia completa de eventos que levou o paciente a produzir naturalmente anticorpos amplamente neutralizadores (BnAbs), assim denominados porque atacam diferentes cepas do vírus da imunodeficiência humana (HIV), que causa a Aids.
"A pesquisa atual preenche lacunas do conhecimento que têm impedido o desenvolvimento de uma vacina eficaz para um vírus que matou mais de 30 milhões de pessoas em todo o mundo", destacou um comunicado da Duke Medicine, que participou do estudo juntamente com uma equipe de pesquisadores nos Estados Unidos e no Malaui.
"Aprendemos com este indivíduo como os anticorpos são induzidos, com a esperança de que esta informação possa servir como uma diretriz de como induzir estes anticorpos como uma vacina preventiva", acrescentou Barton Haynes, diretor do Instituto de Vacina Humana da Universidade Duke, que chefiou as pesquisas.
Os anticorpos são a infantaria do sistema imunológico, aderindo aos vírus ou invasores microbianos e marcando-os para serem destruídos por células "assassinas" especializadas.
A maior parte das vacinas antivirais é feita de anticorpos especializados em reconhecer germes, mas o método ainda não foi bem sucedido em controlar a Aids.
Um dos maiores obstáculos aos desenvolvedores de vacinas é que o vírus da Aids costuma evoluir rápido demais para ficar exposto ao ataque de anticorpos.
O indivíduo estudado, de um país africano que não foi especificado, pertence ao grupo de cerca de 20% das pessoas infectadas com o HIV cujo sistema imunológico naturalmente produz BnAbs.
Infelizmente, isto só acontece de dois a quatro anos após a infecção e não ajuda o hospedeiro que irá desenvolver a doença se não for tratado com medicamentos antirretrovirais.
"Quando os anticorpos neutralizadores são produzidos eles não ajudam a pessoa já infectada. A ideia, no entanto, é: se estiverem presentes antes da infecção, eles então podem evitar a infecção ou a inserção do material genético do vírus no material genético do hospedeiro", explicou Haynes à AFP a respeito do estudo, publicado na revista científica Nature.
Em macacos, os anticorpos BnAbs demonstraram conseguir prevenir a infecção.
Uma vacina baseada em BnAbs está sendo intensamente buscada na luta contra a Aids, doença descoberta em 1981 e que destrói o sistema imunológico.
Segundo as Nações Unidas, quase um por cento da população mundial está infectada com o HIV.
Nesta pesquisa, os cientistas isolaram um anticorpo denominado CH103 e descobriram que ele foi ativado por uma envoltório de proteína específico encontrado em uma forma remota e de baixa mutação do vírus HIV.
Isto significa que os anticorpos só podem ser estimulados para responder à presença desta proteína ou outras similares no vírus.
Enquanto a maior parte dos anticorpos exige de 10 a 15 mutações para conseguir atacar seu alvo, os poderosos BnAbs demonstram de 40 a 100, destacou a Nature em um comentário sobre a pesquisa, que descreveu as descobertas como um mapa possível para uma vacina anti-HIV.
O anticorpo CH103 tinha um número muito menor de mutações, o que pode explicar como se desenvolveu tão rapidamente neste paciente.
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