Padre Vicente |
O que eu disse oralmente logo após o dia 02 de outubro, como já dissera
também no período anterior às eleições, confirmo agora por escrito que quero
continuar mantendo o vínculo com Quitaiús, mesmo tendo necessidade de trabalhar
e fazer estadia pelas cidades circunvizinhas, lecionando não só por mera
profissão, mas por vocação natural de educador. Afirmo que independentemente de
uma atividade acadêmica fora do município de Lavras, o meu desejo é viver até
morrer pelo território de Quitaiús, especificamente com estadia pela Tapera
(contando com o apoio do amigo Antônio de D. Nunum e família) e possivelmente
direcionar uma parte do meu tempo a uma atividade de caprinocultura nas terras
do Olho D’água (contando com o apoio do amigo Laércio). Aliás, falando do Olho
D’água, quero registrar aqui a relevância da amizade que construí com os
amigos, in memorian, Pedim de Zé Antônio e de Louro de Dão cujos
filhos são também meus amigos.
Todos que me conhecem sabem como é o meu estilo de vida. Sempre
pratiquei a atividade política com independência, sem praticar a subserviência,
falando o que penso sem me preocupar em ganhar ou perder votos. Jamais me
curvei para bajular deputado ou senador... Se eleito fosse, eu teria a
liberdade política de exercer um mandato parlamentar sem subordinação a
ninguém, e faria as cobranças das urgências das políticas públicas que se
fizessem necessárias e prioritárias em quaisquer circunstâncias, não importando
a bandeira político-partidária do executivo e/ou da maioria do legislativo, pois
eu não teria nem criaria dificuldade política para o diálogo também com
adversários, tendo sempre em vista o melhor para Quitaiús.
Sem perder a minha autoestima e dignidade de cidadania, considero
oportuno dizer que, ao contrário de quem equivocadamente insinuou, não fui
candidato de ninguém em particular e muito menos seria instrumentalizado por
superiores meus da hierarquia de partido ou coligação. Será que os equivocados
esqueceram de como eu agia diante de qualquer problema político, social ou
religioso no território de Quitaiús? Ao contrário de alguns medrosos e
bajuladores de deputado ou senador, novamente digo que todos que me conhecem
sabem qual é o meu comportamento político e da forma justa de como agir diante
de qualquer questão política, social ou de natureza religiosa. Acima da
atividade meramente política do ponto de vista ideológico, quero mesmo é
exercer o profetismo natural do meu batismo que me inseriu no Corpo Místico de
Cristo, o que naturalmente poderá contemplar uma atividade política. Sobre essa
questão, a doutrina social da Igreja focaliza exatamente a
conscientização e ação política dos cristãos.
Falando de um tema espiritual, certa vez Jesus Cristo disse que “muitos
a si mesmos se fizeram eunucos por causa do Reino de Deus”. Num reino mais
imanente, e infelizmente na política de interesses e na corrida por votos, eu
diria que muitos se vendem a si próprios (a si mesmos se fizeram eunucos no
sentido político, estéreis) por causa de um reino do diabo que alimenta
determinados candidatos não só em tempo de campanha, consequentemente também no
exercício do mandato.
Em se tratando da disputa eleitoral especificamente, sabe-se que muitos
educadores, sobretudo das ciências sociais e humanas e críticos do fisiologismo
político, já incluíram no seu curriculum vitae uma candidatura
política e também não tiveram êxito nas urnas. Por isso, não perco a motivação
para a militância política na condição de cidadão comum, acrescentando
naturalmente um trabalho mediante a educação para a formação política,
valorizando a dimensão do ser político que é inerente ao ser
humano. Falando ainda de resultado de eleição, só para refrescar a memória,
lembro que Cristóvão Buarque era o candidato que representava a bandeira da
educação no país, e ele obteve menos de 2% do eleitorado brasileiro em uma
eleição presidencial.
Eu diria que a minha característica de vida ou perfil político
ideológico tem sintonia com a justiça e com uma ação permanente de inserção na
vida concreta das pessoas. Quando estive à frente das atividades paroquiais em
Quitaiús, jamais me isolei no interior da sacristia ignorando as questões
sociais de interesse do lugar, exatamente porque entendo que a Igreja não pode
se limitar às questões meramente espirituais e internas. Realmente é hipocrisia
apenas rezar e falar suavemente o nome de Jesus ou às vezes fazer pregações
adornadas com algumas palavras de impacto, causando aos ouvintes a impressão de
santidade, às vezes até com o coração cheio de maldades. De modo geral, em todo
canto, entre os cristãos há também alguns com a casca bonita e miolo podre.
Como é do conhecimento de quem tem o mínimo de conhecimento da Bíblia, porém
pode está adormecido na mente e/ou no coração de alguns cristãos, vale lembrar
aqui que o próprio Jesus disse:
“há lobos disfarçados de ovelhas...” e “nem todo aquele que diz Senhor,
Senhor, é digno de mim...” Exorta-nos também o Apóstolo Paulo: “a fé sem as
obras é morta”.
Espiritualmente falando, também diz ainda Jesus que “larga é a porta da
perdição e muitos são os que entram por ela, e estreita é a porta da salvação e
poucos são os que entram”... Ora, eu diria que, também na política fisiológica,
larga é a porta da perdição da vadiagem, da malandragem e da mentira do diabo,
porta esta por onde sorrateiramente circulam livremente e sem nenhum
constrangimento os politiqueiros de plantão. Há muitos que até mediatizam a
religião com fins politiqueiros, aparentando ser bonzinhos e santinhos... Que
pena! Bastaria o mínimo de capacidade de senso crítico por parte do eleitor
para se imunizar da manipulação política. Considero oportuno dizer que não sou
o único padre que abraça uma causa política, e nem de longe alguém poderá dizer
que estou equivocado em semear valores de cidadania e formação política. Sobre
essa questão, até o Papa Francisco tem falado bastante focalizando exatamente a
conscientização política dos cristãos.
Eu diria que, de modo geral, o horizonte mental fechado e conservador de
muitos cristãos não lhes favorece a compreensão do verdadeiro significado da
política e sua relação com a fé, na perspectiva sociológica da própria
religião, no compromisso com a construção de uma sociedade mais justa e
fraterna, inspirando-se até mesmo em muitos profetas bíblicos, os quais não
apenas anunciavam “coisas novas” do Reino de Deus, mas também denunciavam toda
e qualquer estrutura maléfica presente na sociedade.
O profeta Amós é um grande modelo desse profetismo a que me refiro. Com
a sua ótica política a partir de valores éticos, muitos missionários e profetas
do nosso tempo exerceram a militância política e concretamente combateram as
injustiças sociais etc. Infelizmente, por ignorância cultural ou por outras
razões de certa forma (in)justificáveis, são muitas as pessoas que são
indiferentes à política, e há outras que reduzem o significado essencial da
verdadeira política. Politicamente falando – e academicamente, pois na minha
prática docente não perco a motivação para enfatizar a formação política –
continuarei defendendo que há valores éticos que para mim são relevantes para
toda atividade política. É verdade que eu não obtive êxito na disputa
eleitoral, mas eu não perco a motivação para, particularmente exercer minha
cidadania lavrense e, de modo geral, colaborar com a construção política no
sentido pleno da palavra em qualquer espaço e em quaisquer circunstâncias.
NOTA: Com relação à minha candidatura, afirmo que não fui candidato do
lado de Dr. Tavinho para representá-lo com o objetivo de fazer oposição à
candidatura de João Hélio que, aliás, é também um amigo. Teria me candidatado
para ajudar Dr. Tavinho independente de quem fossem os candidatos de oposição
em Quitaiús.
Também independente de candidatura minha em particular, eu teria da
mesma forma acompanhado politicamente o Dr. Tavinho.
Sobre algum comentário de que a minha candidatura atrapalhou a eleição
dele, da mesma forma a candidatura de algum colega seu de partido atrapalhou
também.
Aliás, uma candidatura do João Hélio é que atrapalhou a minha eleição em
2008, quando eu obtive muitos votos mais do que o dobro do número de votos que
ele obteve. Isso é um fato incontestável. João Hélio viu que a situação
política não estava boa para o lado de Dena e consequentemente do Ildsser,
então ele passou para o lado de Dr. Tavinho, e sem uma candidatura minha (2012)
ele aproveitou a enxurrada de votos, ou seja, eu não fui candidato e isso foi
bom para ele que obviamente foi eleito com muitos votos de pessoas que votaram
em mim em 2008 e teriam votado novamente em 2012.
Ora, o mínimo de inteligência é suficiente para entender que se João
Hélio, mesmo vindo do grupo de Dena em 2008, recebeu muitos votos de eleitores
oriundos do grupo político de Chico Aristides e de Dr. Tavinho, imagine quantos
votos eu não teria recebido se tivesse me candidatado em 2012, considerando-se
que eu já era do lado de Chico Aristides e de Dr. Tavinho! Certo? Mas eu não
quis interromper um trabalho de missão em uma diocese de Pernambuco, não me
candidatando naquele tempo quando tudo estava favorável para qualquer candidato
relativamente bom do lado de Dr. Tavinho. Não me candidatei, não tive ambição
por poder nem por dinheiro. Não me aproveitei da situação, e certamente eu
teria sido eleito e talvez ele não. Aliás, sempre quis apoiar alguém e não
necessariamente me candidatar. Se em 2008, o João Hélio tivesse se candidatado
fora do grupo de Dena, eu o teria apoiado naquelas circunstâncias. Neste ano,
evidentemente pela minha história de militância política no município de
Lavras, naturalmente eu tinha de me candidatar no grupo do PDT ou mesmo do PSDB
e, em hipótese alguma, ia me candidatar no grupo do PMDB.
Mas isso é só disputa eleitoral (in)felizmente, e devemos
civilizadamente cultivar e conservar a amizade!
Sou amigo da família de Alexandre de Ioiô, assim como sou amigo dos
ribeiros, e a ambas as famílias devo favor, mas sou livre para militar
politicamente convergindo ou divergindo entre todos eles. Não quero que nada
atrapalhe a nossa amizade.
Falando ainda sobre candidatura, o ideal seria que o legislativo fosse
mais independente, ou seja, que houvesse uma mudança estrutural na lei eleitoral
possibilitando ao cidadão uma concorrência mais justa.
Sobre isso, eu teria muito a escrever e não caberia aqui neste
reduzidíssimo espaço gráfico.
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