quinta-feira, 21 de março de 2019

Ceará lidera evolução no Ensino Fundamental

Esperança e preocupação se misturam, de forma quase proporcional, ao se falar de ensino e aprendizagem no Ceará: de acordo com levantamento da ONG Todos pela Educação (TPE), o Estado foi o que mais avançou, entre 2007 e 2017, na quantidade de estudantes dos 5º e 9º anos que têm nível adequado de aprendizado em português e matemática. O ensino fundamental cearense é destaque nacional. É no médio, porém, onde mora a preocupação: em dez anos, o Ceará subiu apenas uma posição nos índices de ambas as disciplinas.
O estudo é feito com base no desempenho dos estudantes no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), e busca acompanhar o cumprimento da Meta 3 do TPE: "todo aluno com aprendizado adequado ao seu ano". Os índices consideram tanto escolas privadas como públicas, mas, segundo a coordenação de projetos do TPE, cerca de 80% das amostras são de alunos da rede pública. Em Língua Portuguesa, o progresso dos cearenses é notável. Em 2007, apenas 21,4% dos estudantes do 5º ano tinham aprendizado adequado para a série, e o Estado ocupava a 15ª posição no País. Já em 2017, o número saltou para 65,7% (63% se consideradas apenas escolas públicas), aumento de 44 pontos percentuais, que posiciona o Ceará como o 6º melhor do Brasil. Em Matemática, o crescimento também foi significativo: em 2007, só 15% tinham aprendizado proporcional ao 5º ano, quantidade que subiu para 50% (48,3% nas públicas) em dez anos. O Estado é o 11º melhor nesse indicador.
No 9º ano, último do ensino fundamental, o avanço freia, mas segue. De 2007 a 2017, o número de alunos com aprendizado adequado em português cresceu de 14% para 43,6% (40% nas públicas), colocando o Ceará da 16ª para a 10ª posição frente aos demais estados. Em matemática, a evolução foi menor: o índice subiu de 9% em 2007 para 23% (19,5% nas públicas) em 2017, aumento de 14 pontos percentuais, que posiciona o Estado em 10º do Brasil.
Ao chegar no 3º ano do ensino médio, a educação cearense segue tendência nacional e estaciona, com evoluções irrisórias em se tratando de um período longo - o que eleva a preocupação, visto que se trata do último ano do ensino básico, justamente o que deveria contar com alunos preparados para ensino superior e mercado de trabalho.

Rede
Em português, apenas 20% dos estudantes do 3º ano médio tinham nível de aprendizado adequado em 2007, número que em 2017 chegou a 27% (21,9% na rede pública). O avanço sequer segurou a colocação nacional do Estado, que caiu do 11º para o 12º lugar no indicador. Já em matemática, a situação é ainda pior: a diferença de aprendizado em uma década foi de apenas 2 pontos percentuais, passando de 6% para 8% no período. Ainda assim, o Ceará é o 13º neste indicador entre os estados, empatado com a Paraíba.
Conforme a coordenadora de projetos do Todos pela Educação, Thaiane Pereira, é preciso observar a tendência de regressão dos resultados ao longo da jornada escolar. Números mais altos no 5º ano caem gradualmente até atingirem péssimos índices no 3º do médio. E não é à toa. "As razões vêm desde a alfabetização mal feita, e isso vai se acumulando e se transformando em defasagem", alerta.
A especialista ressalta, ainda, que as mudanças dos modelos das escolas têm influência direta. "Até o 5º ano, o aluno geralmente fica a cargo de um só professor, que o conhece melhor, sabe das necessidades mais de perto. Depois, isso muda. São mais docentes, menos proximidade. E a escola vai se tornando menos interessante do ponto de vista de estimular o aluno e dar oportunidades de escolha", observa.
Apesar do congelamento dos anos finais da educação básica, Thaiane classifica o Ceará como "exemplo a ser seguido pelo Brasil", e atribui o crescimento de diversos indicadores à "continuidade" de políticas como o Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic). "O Ceará tem uma das piores rendas per capita, mas consegue avançar, porque existe uma política contínua. O Paic já tem repercussões no 9º ano", define.
A secretária da Educação do Ceará, Eliana Nunes Estrela, reconhece que "não estamos numa situação confortável" e que "o ensino médio ainda tem muitas dificuldades", mas espera que a chegada dos efeitos do Paic, as ações de formação continuada de professores e a ampliação do ensino em tempo integral contribuam para melhorar os índices. "Focamos na redução do abandono e no protagonismo estudantil para que eles permaneçam na escola e concluam a educação básica". Sobre ações focais para melhorar o aprendizado em matemática, Eliana declarou que "não existem materiais específicos", mas os professores da rede passam por formações.
Já a titular da Secretaria Municipal de Educação, Dalila Saldanha, comemora os bons números relativos ao ensino fundamental, mas alerta para a necessidade de se adotar "novas metodologias de ensino", sobretudo em matemática. "Temos investido em apoiar os professores, tanto em formação como em materiais. As ações da rede sempre eram voltadas para leitura e escrita, mas precisamos mudar para reverter a deficiência em matemática", aponta. Como iniciativas municipais, Dalila menciona pelo menos duas formações para docentes da área de exatas previstas ainda para o primeiro semestre.
Preconceitos
"Na matemática, principalmente, temos que romper com muitos preconceitos, com aquela cultura de que é difícil. Mostrar que é uma ciência como as outras e que os estudantes são capazes de aprender. A gente precisa engajar as pessoas, estimular, fazer com que acreditem que na escola pública eles podem aprender e evoluir", finaliza Dalila Saldanha.
Fonte: DN

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