Alvo de críticas pela equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), o Conselho de Controle de Atividades Financeiras ( Coaf ) produziu cerca de 30 mil relatórios de inteligência nos últimos dez anos para embasar centenas de investigações da Polícia Federal contra políticos dos mais diversos partidos, dentre eles o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB).
Só em 2017 foram 6.608 relatórios, que analisaram movimentações financeiras de 249.107 pessoas. Os dados de 2018 ainda não foram fechados e contabilizados pelo órgão.
Um dos mais sensíveis relatórios foi produzido em 2015 e atingiu em cheio o ex-presidente Lula e seus familiares, além dos também petistas Antonio Palocci (ex-ministro da Fazenda), Erenice Guerra (ex-ministra da Casa Civil) e Fernando Pimentel (governador de Minas Gerais). As transações envolvendo os quatro representaram cerca de R$ 300 milhões.
O Coaf detectou, dentre outros fatos, que a empresa de palestras de Lula movimentou R$ 52,3 milhões entre abril de 2011 e maio de 2015, tendo recebido pagamentos milionários da Odebrecht, que posteriormente se tornaram alvo da Lava Jato. Também chamaram atenção do Coaf repasses da empresa de Lula para seus filhos. De acordo com o Coaf, houve “movimentação de recursos incompatível com o patrimônio, a atividade econômica ou a ocupação profissional e a capacidade financeira do cliente (Lula)”.
Sobre Palocci, o Coaf apontou movimentação de R$ 216,2 milhões entre 2008 e 2015, a maior parte relacionada à empresa de palestras dele, chamada Projeto. Tanto Lula como Palocci foram presos pela Lava Jato — o ex-ministro se beneficiou da prisão domiciliar após acordo de delação premiada .
Um outro relatório do Coaf, este produzido no ano passado, desvendou movimentações suspeitas de R$ 248 bilhões feitas pelo grupo J&F, da JBS, entre 2003 e 2017. Este relatório citou o ex-ministro Geddel e relatou movimentações financeiras de R$ 34 milhões dos seus pais entre 2011 e 2015. Geddel foi preso após a PF encontrar R$ 51 milhões em dinheiro vivo em um apartamento ligado a ele em Salvador.
O órgão ganhou evidência nos últimos dias após apontar que o "movimentações atípicas" realizadas por um ex-motorista de Flávio Bolsonaro, filho do presidente eleito Jair Bolsonaro . Fabrício José Carlos de Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e o mesmo mês de 2017. De acordo com o documento, anexado às investigações da Operação Furna da Onça, Queiroz recebeu depósitos em espécie e por meio de transferências de oito funcionários que já foram ou estão lotados no gabinete do parlamentar.
Na sexta-feira, o futuro ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse considerar irrelevante uma pergunta sobre o relatório e questionou onde o Coaf estava nos escândalos do mensalão e da Lava-Jato.
Entenda o funcionamento
Os relatórios do Coaf podem ser produzidos a pedido dos órgãos de investigação, como Polícia Federal e Ministério Público, como a partir de comunicações de transações suspeitas feitas pelas instituições financeiras.
De acordo com a atual legislação, as instituições são obrigadas a comunicar ao Coaf “qualquer operação que envolva o pagamento ou recebimento em espécie de valor igual ou superior a R$ 30.000,00 (trinta mil reais) ou equivalente em outra moeda”. Também as instituições devem comunicar outras operações que sejam consideradas suspeitas de lavagem de dinheiro, como aquisições de bens de luxo de altos valores ou aplicações muito altas em planos de previdência. Só em 2017, foram recebidas pelo Coaf aproximadamente 1,5 milhão de comunicações de operações suspeitas.
Fonte: O Globo
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