"O PT está ficando isolado. Até o comportamento de
plenário inverteu: o PT está muito mais se submetendo ao PSOL do que o
contrário, como acontecia antigamente", diz o líder o PSDB na Câmara,
Nilson Leitão (MT).
Ainda na defesa da tese do isolamento, ele cita as falas de Lula ao ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE), pré-candidato à Presidência. Na entrevista, Lula reagiu a críticas que Ciro vem fazendo ao ex-presidente e ao PT.
"O Ciro Gomes acaba vislumbrando possibilidade de
candidatura sem o Lula. Tenta ocupar o espaço. Essa discordância demonstra
claramente que o Lula não está preocupado com uma eleição de um ajuntamento da
esquerda. Está preocupado com sua própria eleição", afirma Leitão.
O deputado critica pontos da entrevista como quando Lula
se refere a ele mesmo em terceira pessoa.
"É o Luiz Inácio falando do personagem, como se
fosse uma vítima da Justiça brasileira. Ele aposta nas urnas como uma carta de
alforria, mas fala de forma seletiva, para a militância. Falta ao Lula
humildade", afirma.
Quanto ao trecho em que Lula diz que o presidente Michel
Temer foi alvo de uma tentativa de golpe, na época em que houve a divulgação
dos áudios do emedebista com o empresário Joesley Batista, o tucano vê a
possibilidade de um aceno do petista para eventuais alianças regionais nestas
eleições.
"É um aceno de bandeira branca, talvez. Alguém que
chamou o Temer o tempo todo de golpista está colocando ele como vítima",
diz Nilson Leitão.
Senador Randolfe Rodrigues (AP) |
O líder da Rede Sustentabilidade no Senado, Randolfe
Rodrigues (AP), afirma ter tido impressão semelhante.
"Reapareceu o velho Lula pragmático, que estava um
pouco escondido. Pensa em eleições, em quaisquer alianças para atingir o
objetivo [de vencer a disputa]. Não duvido que em uma eventual vitória terá
aliança com o velho da política, com o MDB. O próprio Lula sepultou o discurso
do golpe", diz Randolfe.
RELATO HISTÓRICO
No PT, a leitura é diferente.
"Ele fez um relato histórico", afirma o
deputado José Guimarães (PT-CE), líder da minoria na Câmara."Os relatos
históricos precisam ser ditos, independente de concordar ou não", diz o
petista.
Para Guimarães, em relação à intenção de levar a própria
candidatura adiante, Lula está "totalmente afinado com o que pensa o
PT".
O líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), concorda que
Lula fez bem ao não cogitar uma candidatura alternativa.
"Aceitar o plano B é aceitar a criminalização do
Lula e legitimar uma eleição que, sem ele, será uma fraude. As pessoas que patrocinaram
e financiaram o golpe queriam que o PT apresentasse um nome alternativo para
fazer uma eleição de faz de conta. Nós não vamos fazer isso. Não vamos
facilitar nem legitimar a escalada autoritária no país", afirma Pimenta.
O líder do partido minimizou o enfrentamento entre Lula e
Ciro Gomes.
"O presidente Lula não faz críticas ao Ciro Gomes.
Ele tem sido sistematicamente atacado. Ele respondeu, quando questionado, sem
fazer qualquer tipo de ataque", diz Pimenta, defendendo a unidade entre os
partidos de esquerda.
"Os nomes que se colocam no campo democrático e
popular neste momento deveriam ter a sensibilidade, o respeito de perceber que
estamos na hora de preservar o legado, a trajetória, a história do presidente
Lula. Não é atacando o Lula que alguém vai se construir como uma alternativa à
esquerda", afirma o líder petista.
O líder do PSB, Julio Delgado (MG), diz discordar da
afirmação de Lula à Folha de S.Paulo de que as eleições serão novamente
polarizadas entre PT e PSDB. "Lula, assim como o pessoal da direita, está
colocando esta eleição como se ela fosse uma eleição típica, normal, e ela será
totalmente diferente", afirma.
Para Delgado, a fala de Lula reflete a posição "de
alguém que sabe a realidade que está lhe aguardando". "Mais inteligente
que todos nós o Lula é. Ele sabe que está inelegível, apesar da insistência e
da luta do partido", afirmou.
Segundo ele, o ex-presidente faz um gesto de resistência
ao dizer que lutará até o fim por sua candidatura, para preservar o partido e
sua posição.
Fonte: Folhapress
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