Recolhido na simplicidade da sua expressão gestual discreta e cativante, de característica marcadamente paternal e afetiva, esse amante incondicional das suas raízes cearenses é autor de um livro de poemas que, de forma sutil e reiterada, atesta o seu amor à verdade e à cultura da sua região.
Mesmo acompanhando de perto, durante algum tempo, a sua dedicação à vida literária, jamais me acorreu a ideia de que, no final dos seus dias, a sua criação viesse a assumir tamanha gravidade, e de que o seu espólio de poeta estivesse praticamente pronto para o prelo.
Sabia ele, no entanto, do significado e do valor que permeavam a tessitura dos seus versos, e sabia, mais do que isso, que eu jamais me furtaria ao compromisso que um dia lhe fizera de publicar uma seleção dos seus poemas.
Dessa circunstância é que nasceu a edição de Trovas e Poemas (Fortaleza, Editora Oficina, 1990; 2ª edição: Fortaleza, Edições Poetaria, 2011), volume no qual decidi reunir, de forma rigorosa, os seus poemas produzidos após a morte da minha mãe, Maria Eliete de Macedo, aos 10 de outubro de 1975.
Da emoção e do enlevo que sempre costuraram as suas atitudes, ele não se furtou de falar ao silêncio da sua escritura literária, tecendo trovas, poemas e sonetos temperados pela coloração das lembranças e das recordações; e poemas que despertaram a atenção de escritores do porte de Joaryvar Macedo (de quem era irmão unilateral) e José Alcides Pinto, que escreveram, efusivamente, sobre a sua obra literária.
Enquanto poeta, meu pai soube revestir os seus poemas do mais fino gosto popular, utilizando os recursos da trova e do repente para denunciar os contrastes e fraturas do nosso esquecido sertão, e da classe social na qual inseriu a sua visão de escritor, seguindo, nesse passo, a influência maior do meu avô, o destemido poeta Lobo Manso, uma das vozes mais expressivas da nossa literatura de cordel.
Vivendo a epopeia dos que laboram na busca da Justiça e no cadinho da Resistência e da Verdade, é certo que seu nome remarca as tradições da comuna que o acolheu como cidadão, pois afora a militância de ordem literária, ostentava trajetória de vida fincada na participação e no desejo de realização do social.
No Sítio Calabaço, sempre viveu da pecuária e do amanho da terra, mas em 1958, tangido pelas asperezas da seca, veio a fixar residência na cidade de Lavras, passando, a partir de então, a desenvolver atividades no Sítio Cajueiro, que adquirira, por compra, do seu primo e cunhado, Vicente Favela de Macedo.
Colocando-se ao lado das vanguardas e iniciativas da cidade de Lavras, seria ele, naquele município, um dos fundadores do Círculo Operário dos Trabalhadores Cristãos, de cujo núcleo regional foi Presidente.
Também no município de Lavras, meu pai foi um dos fundadores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, sendo um dos instituidores, na gestão em que foi Tesoureiro de referido Sindicato, da Cooperativa dos Trabalhadores Rurais de Lavras da Mangabeira, que igualmente dirigiu.
Em 1966, participou do processo de constituição do diretório municipal do MDB, ao lado de homens de determinação e de coragem, tais as legendas de Jaime Lobo de Macedo, João Guedes de Araújo, Antônio Pinto de Macedo e Otoni Lopes de Oliveira.
E, ao abrigo dessa nova vivência democrática, teve o seu nome cogitado ao cargo de Prefeito, o mesmo ocorrendo em 1976, quando o industrial João Ludgero Sobreira o quis transformar em chefe da edilidade. De ambos os encargos, contudo, soube se eximir com elegância, demonstrando não possuir interesse pelas coisas do poder e da instituição municipal.
Relações de estima e afetividade são formas de valores que sempre difundiu entre os seus. O que marca, contudo, a sua trajetória, é a disposição que sempre demonstrou de servir à causa social, ligando seu nome à prática de uma liderança carismática e católica que, na sua terra de berço, exerceu como poucos cidadãos, dando-me o privilégio de ter como padrinho o sempre virtuoso Padre Alzir.
Transferindo-se para Fortaleza, em 1975, aqui viria a fixar residência no Bairro da Piedade, onde se tornou figura popular. Atuando como Cooperador Salesiano junto à Paróquia da Piedade, ali integrou a Associação do Sagrado Coração e a Associação de Nossa Senhora Auxiliadora, desempenhando funções de direção junto à Associação dos Merceeiros do Ceara e ao Círculo Operário dos Trabalhadores Cristãos – núcleo regional do Bairro da Piedade.
Sua primeira mulher, Maria Eliete de Macedo, com quem se casou aos 27 de novembro de 1945, era sua prima legítima, tendo nascido no sítio Calabaço, em Lavras da Mangabeira, aos 20 de fevereiro de 1929, e falecido em Fortaleza, aos 10 de outubro de 1975. Já a sua segunda mulher, Francisca Nogueira Maia Macedo, era natural de Morada Nova (CE), mas é certo que com ela pouco conviveu, pois a morte o ceifou pouco tempo depois.
Descendente dos desbravadores que construíram a civilização do Cariri, filho de Maria de Aquino Macedo e de Antônio Lobo de Macedo (Lobo Manso), uma das legendas da poesia popular do Ceará, José Zito de Macedo (Zito Lobo), para o meu orgulho, é hoje Nome de Rua em Fortaleza e em sua cidade natal, num reconhecimento, acredito, aos seus melhores atributos.
Ao ensejo da criação da Academia Lavrense de Letras, o poeta Linhares Filho foi um dos primeiros a indicar o seu nome para Patrono de uma das Cadeiras, gerando, de plano, a concordância de todos os presentes.
Honra-me, de forma profunda e recompensadora, o fato de ser filho desse denso e memorável José Zito de Macedo, que neste ano de 2012 completa os seus noventa anos.
A sua retidão, a sua leveza de espírito e o seu desejo de servir ao próximo e de amar à causa de Deus e da Igreja constituem parte do que mais admiro na sua formação.
Eu sempre o amei e venerei da forma mais sentida, e da forma ainda mais sagrada e dolorosa daquilo que faz parte de mim, e que me ensina a ser, a cada instante, um servo fiel do seu amor, bastando-me o seu exemplo como modelo de pai e de amigo, e de esposo fiel e generoso, sendo esteio de amparo e proteção para todos nós.
Por: Dimas Macêdo
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