sábado, 7 de abril de 2018

ELEIÇÕES 2018: Cláudio Couto: 'O caminho lógico para o PT é apoiar Ciro Gomes'


Com a iminente prisão de Lula após o Supremo Tribunal Federal  negar o habeas corpus ao ex-presidente, as possibilidades do petista seguir na disputa eleitoral tornam-se cada vez mais remotas. Primeiro colocado nas pesquisas, ele terá grandes dificuldades de convencer a Justiça Eleitoral de que pode concorrer. Se for preso e o STF não julgar o tema das prisões em segunda instância, ele também não poderá fazer campanha e cruzar o Brasil, como tem feito em suas caravanas.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), responsável por analisar a legalidade das candidaturas, só poderá barrar a possível chapa de Lula com base na lei da Ficha Limpa - que proíbe réus condenados por colegiados de participar do pleito -, depois do dia 15 de agosto, quando se encerra o período para o registro de candidatos. O prazo de análise pelo TSE poderá se arrastar até 17 de setembro.
Até o momento, o PT e o próprio Lula não sinalizaram uma outra candidatura que não seja a do ex-presidente. O partido afirma que insistirá na reversão do processo até que todas as etapas judiciais sejam vencidas. A defesa de Lula ainda pode recorrer da decisão do Supremo Tribunal de Justiça e no próprio STF, que negou o habeas corpus. Outra possibilidade é pressionar o Supremo para julgar as ações diretas de constitucionalidade sobre as prisões em segunda instância.
Fora da campanha, Lula tem o apoio de 37% do eleitorado, segundo a última pesquisa realizada pelo DataFolha. De acordo com cientista político pela Fundação Getúlio Vargas Cláudio Couto, o caminho mais lógico para ocupar este vazio hoje é o PT e o próprio Lula apoiarem Ciro Gomes (PDT). "Ciro sempre foi aliado de fato do partido, e está muito mais próximos das posições políticas e econômicas do PT que qualquer outra candidatura", afirma Couto. 
Cláudio Couto - Cientista político pela Fundação Getúlio Vargas
CC: Como fica a candidatura à presidência do PT agora?
CC: Uma candidatura própria do PT é muito pouco viável. A candidatura do Jacques Wagner é muito restrita à Bahia, e ainda existem acusações contra ele, o que o enfraquece ainda mais. O Fernando Haddad é um candidato que aponta para uma possível renovação do próprio PT, mas o partido não consegue ver no Haddad a sua imagem e semelhança. Ele não tem apoio de lideranças do partido, além do mais é frágil em sua própria base eleitoral que é São Paulo. Não acredito que no atual contexto o PT consiga ocupar o vazio político que o Lula deixa com nomes do próprio partido. 
CC: Qual o caminho mais lógico para o partido? 
CC: O mais lógico é o PT apoiar alguém que esteja dentro do seu campo político, e dos nomes que existem hoje, o do Ciro Gomes é o que faz mais sentido. Ciro já foi ministro do Lula, sempre foi um aliado. O governo do Ceará é petista e chegou ao poder com apoio e base do Ciro. É um aliado de fato. Se levarmos em conta candidaturas de esquerda e de centro-esquerda, a que tem mais proximidade hoje com os planos políticos e econômicos do PT é a do Ciro Gomes. A questão é se o partido vai adotar uma posição racional e pragmática agora. 
CC: O Ciro nesta pré-campanha criticou o PT e o Lula em diversas ocasiões. Você acredita que são tensões fáceis de se dissolverem? CC: Não acredito que os desentendimentos entre eles é um problema que inviabiliza o apoio. O Tarso Genro faz críticas ao PT muito parecidas com as que o Ciro faz e nem por isso foi excluído no partido. 
CC:As candidaturas mais à esquerda, do Guilherme Boulos (Psol) e da Manuela D’Ávila (PCdoB) estão hoje muito mais próximas da candidatura do Lula.CC:O PCdoB é um partido muito pequeno. Seria muito estranho o PT apoiar uma candidatura de um partido tão sem expressão, que sempre foi um partido cabotino. A Manuela enfrenta dificuldades pra ampliar sua expressão para fora do Rio Grande do Sul. 
No caso do Boulos é ainda mais difícil porque ela tá em um partido ainda menos expressivo que o PCdoB, e que é dissidência do PT. O Psol saiu das entranhas do PT e nunca foi um aliado. O Boulos tem boas relações com o Lula, o que não reflete a visão do partido. Seria muito difícil o partido manter seu eleitorado de centro defendendo as posições tão à esquerda que o Psol propõe.
CC: O Jair Bolsonaro deve ocupar uma parte desse vazio eleitoral que o Lula deixa? 
CC:O Bolsonaro não pega a maior do eleitorado petista, ele está no outro extrato. Mas é o segundo colocado nas pesquisas. Mesmo tendo pouco tempo na campanha televisiva, ele pode ser resiliente e chegar no segundo turno. A Marina Silva também tinha pouco tempo de TV e chegou aos quase 20% dos votos no primeiro turno.
A candidatura do Bolsonaro é neofascista. O conceito do discurso dele se baseia na violência e na irracionalidade. Ele defende que as mulheres se defendam dos homens agressores comprando armas, elogia as forças policiais, que os indígenas e quilombolas saiam de suas terras. Ele cultiva uma estética de violência típica do fascismo adaptadas para o nosso contexto. É um antipetista por excelência. Ele usa uma irracionalidade puramente instrumental que prega a exclusão do outro.
Fonte: Carta Capital

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